Fundador | George Bitar

george-bitar
George Bitar

George Bitar nasceu em 1943, em Yabroud, cidade próxima a Damasco, na Síria.

Filho de Nagib Bitar e Oairde Arbex Bitar, aos 6 anos de idade veio para o Brasil junto com os seus pais e seus 2 irmãos mais velhos, numa viagem de 13 dias na última classe de um navio.

A família foi morar em Piraju, no interior do Estado de São Paulo, onde seu pai abriu um comércio, a Casa Michel (nome do primogênito como era costume na Síria), famosa por vender artigos de caça e pesca. No Brasil, nasceu seu irmão mais novo, Vitor, pelo qual tinha imenso zêlo. Bitar trabalhava na loja nos períodos que não estava na escola (foi alfabetizado no Brasil) junto com os seus irmãos. Logo cedo percebeu que não havia nascido para o comércio e com 16 anos decidiu ir para São Paulo para terminar o colegial e estudar para ser médico.

Em 1963, após 2 anos de cursinho Brigadeiro e já com 20 anos, entrou para a Faculdade de Medicina da PUC de Sorocaba. Durante a faculdade foi presidente do Centro Acadêmico, fundou o Show Medicina e foi líder estudantil, numa época em que se instaurava o Regime Militar no Brasil (1965) e que Bitar seria opositor. Nos períodos que voltava para Piraju, trabalhava na rádio Piratininga como locutor. Através da rádio, além lutar contra o Regime, avisava a sua namorada, que carinhosamente chamava de Lucinha, que já estava na cidade para poderem se encontrar. Já naquela época se destacava pela oratória, liderança e pensamento coletivo.

Formado em 1968, iniciou a Residência Médica em Ortopedia e Traumatologia no Instituto de Ortopedia da USP. Foram 2 anos morando no Instituto, o que foi determinante para o seu crescimento profissional e onde conheceu diversas lideranças da Ortopedia Brasileira. Após a residência foi morar em Santos à convite dos seus colegas da república de Sorocaba e onde iria construir a sua história profissional e familiar. Em 1970 casou-se com a “Lucinha” e teve 5 filhos, Cláudia hoje pediatra em Santos, Rogério ortopedista em Ribeirão Preto, Alexandre ortopedista e Sílvia geriatra, ambos em São Paulo, e Sandra socióloga e professora em Ilha Bela. Tem 8 netos.

Desde o momento que entrou para a SBOT, em 1972, após realizar a prova de título de especialista em Ortopedia e Traumatologia, Bitar começou a se envolver com a Sociedade e com a formação do ortopedista. Manteve, junto com a sua equipe e sócios da Clínica Padre Anchieta de São Vicente, um serviço de residência dentro dos hospitais São José em São Vicente e Beneficência Portuguesa de Santos, que perdurou durante quase 30 anos e de onde saíram renomados especialistas e chefes de serviço de vários cantos do Brasil. Bitar gostava de promover as atividades sociais em sua casa e reuniões do serviço nos congressos nacionais da SBOT. Sempre foi reconhecido pela tolerância e respeito às individualidades, o que lhe trouxe muitos amigos e admiradores.

Além da sua atuação na Ortopedia, em 1979, George Bitar foi eleito Presidente da Associação dos Médicos de Santos, e durante a sua gestão liderou inúmeras campanhas em defesa da classe médica, numa época que, temendo o crescimento da chamada medicina mercantilista, enxergava que a “salvação” para os médicos seria o cooperativismo, atuando no fortalecimento da Unimed, a qual foi fundada em 1967 na cidade de Santos pelo Dr Edmundo Castilho, ginecologista e obstetra. Participou de diversas diretorias, mas nunca foi presidente da Unimed, como também nunca pleiteou este cargo na SBOT. Gostava de fazer política. Ajudou na criação do diretório do PSDB em Santos no final dos anos 80 (muitos o tinham como de esquerda). Era um grande defensor da ética, conseguia colocar com clareza as suas posições, sem agredir seus adversários, o que lhe conferia muito respeito. Dentre as frases marcantes, Bitar gostava de dizer: “quem decide pode errar, quem não decide já errou” e “hospital sem médico é hospedaria”.

Em 1983, com 40 anos e já com 5 filhos, enfrentou um dos momentos mais difíceis da sua vida. Por conta dos inúmeros discursos inflamados sofria com nódulos nas cordas vocais. Após 5 cirurgias descobriu um câncer de laringe, o qual só poderia ser operado, sem que perdesse a voz, através de uma técnica cirúrgica oferecida apenas nos Estados Unidos, um tratamento arriscado e muito dispendioso. Foi operado na cidade de Pittsburgh, na Pensilvânia, com êxito. Ficou emocionado e eternamente grato pela dedicação do seu médico americano, pela sua sensibilidade e por não ter cobrado os seus honorários (na época alguns milhares de dólares). Restou-lhe uma amizade (recebeu o seu amigo americano em sua casa alguns anos depois) e uma voz rouca, que não o impediu de seguir atuando na Sociedade. Organizou diversos encontros científicos, presidindo o primeiro Cotesp em 1986 na cidade de Santos.

Em 1987 foi convidado a assumir a Comissão de Defesa Profissional da SBOT, que exerceu durante 14 diretorias (um feito inédito), deixando o cargo em 2007. Foi o fundador do Jornal da SBOT, o qual no início era feito quase que artesanalmente em sua casa (colocava os filhos para recortar as palavras e depois às colava uma a uma para serem impressas na forma do jornal). Era o fotógrafo, o entrevistador (gostava de entrevistar os professores nacionais e internacionais que vinham para os Congressos da SBOT), o redator e o diretor do jornal. Expressava nos seus editoriais nada mais do que a pura realidade que ele mesmo enfrentava atuando como médico; a luta constante contra os planos de saúde (ajudou a criar a Central de Convênios da SBOT em 1995); da deterioração dos honorários médicos (ajudou na elaboração da CBHPM) e do combate à “judialização” da medicina (idealizou a prestação de auxilio jurídico aos associados da SBOT), combatendo a proliferação dos seguros profissionais e a má prática. Dizia que: “atrás de um processo médico, sempre tem outro médico”. O Jornal da SBOT deu voz à diversos ortopedistas de todos os cantos do Brasil, que sofriam com os mesmos problemas e que aguardavam ansiosos por cada edição, e fez com que Bitar se tornasse uma liderança da especialidade reconhecido à nível nacional.

Em 2011, durante o exame Nacional da SBOT, o qual era examinador, George Bitar recebeu a homenagem do Diploma de Mérito da Ortopedia “Nicolas Andry”, das mãos do presidente da SBOT, Osvandre Lech, pelos serviços prestados à Ortopedia Brasileira durante toda sua vida profissional. Foi aplaudido de pé por todos os colegas que lá estavam e que expressavam a grande admiração pelo trabalho incansável de Bitar pela Defesa Profissional. Segundo ele, além de inesperado, foi um dos momentos que ele definiu como “dever cumprido”. Dos parentes que vieram da Síria, incluindo o seu irmão mais novo, só restou Bitar, que em 2016, ao quase completar 50 anos de formado e ter recebido diversas honrarias, já com a saúde debilitada, mas sempre acompanhado e sendo cuidado pela sua querida Lucinha, “pendurou as chuteiras”.