Cadeiras | Cadeira 21

image_cc001dd9-93ee-4f66-95c7-b2ebad7f303e
Cadeira 21
Fundador: Geraldo da Rocha Motta Filho
Patrono Donato D’Angelo

Donato D’ ngelo nasceu em 23 de abril de 1919 em Petrópolis, a cidade de D. Pedro, de Thereza Christina, da Princesa Isabel e de todos nós, região serrana do estado do Rio de Janeiro, e foi considerado um gigante em muitos aspectos. Ingressou na Faculdade Fluminense de Medicina, em Niterói, com a idade de 14 anos e se formou em 1939 com vinte anos de idade, tendo sido considerado o médico mais jovem do Brasil. Trabalhou durante um ano e dois meses no Instituto Ortopédico Rizzoli, em Bolonha, Itália, sob a orientação de Vittorio Putti, onde teve contato com os avanços da ortopedia do pós-guerra e desenvolveu o gosto pela arte, literatura e história. De volta ao Brasil, coordenou a instalação de diversos serviços de ortopedia, como os do Hospital Federal de Ipanema e do Hospital São Zacharias, consolidando a especialidade na cidade do Rio de Janeiro. Foi fundador da Faculdade de Medicina da Universidade Católica de Petrópolis (FMUCP), onde estabeleceu um centro de formação ortopédica de excelência, tendo atuado como Professor Titular de Ortopedia por 31 anos. Na década de 70 foi também Professor Titular da Escola de Reabilitação da mesma instituição e da Faculdade de Medicina de Teresópolis, onde exerceu a chefia do Serviço da Disciplina de Ortopedia (1973-1976). Dedicou-se como poucos à Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), se tornando membro titular em 1950 e exercendo a liderança com ética e bom senso nas mais distintas áreas. Foi examinador da Comissão de Ensino e Treinamento (CET/SBOT) por décadas e editor-chefe da Revista Brasileira de Ortopedia (RBO) por impressionantes 28 anos (de 1970 a 1998), além de ter representado o Brasil na diretoria da Société Internationale de Chirurgie Orthopédique et Traumatologie (SICOT) por nove anos. Presidiu o 20º Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia (CBOT) em 1975, exerceu a presidência da SBOT no biênio 1978-79 e a presidência da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo (SBCOC) em 1988-89. Recebeu o título de Doutor pela Faculdade Nacional de Medicina (UFRJ), em 1970, com a tese sobre Luxação Recidivante do Ombro, o que lhe rendeu dezenas de citações internacionais, sem nunca ter sido publicada. Foi considerado pela então nova geração de especialistas como o Pai da Cirurgia do Ombro no Brasil. Foi membro de inúmeras sociedades médicas como a Sociedade Médica de Petrópolis (1951); Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Reumatologia; Membro Efetivo do Instituto Brasileiro da História da Medicina (1950); Membro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (1955); Membro Senior do Colégio Internacional de Cirurgiões (1956); Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (1960); Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina e Cirurgia do Pé (1975); Membro da Sociedade de Medicina Física e Reabilitação (1977); Membro da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro (1993) e Membro Honorário da Academia Petropolitana de Ciências Neurológicas (1992), tendo por fim exercido a presidência da Sociedade de Medicina de Petrópolis (1963-1964). O humanismo foi um traço marcante em sua vida profissional. Transitou como poucos entre o mundo científico e o literário, entre a medicina para abastados e a para excluídos sociais. Atendeu sem jamais cobrar do menino pobre de Cachoeiro do Itapemirim, que se tornaria o ícone da Jovem Guarda. Homenageado várias vezes pelo Rei Roberto Carlos, Donato jamais se valeu da inusitada notoriedade profissional. Aliás, silenciosamente, ensinou a inúmeros profissionais como manter a ética e não usar nomes de notáveis para angariar clientela. Ele era uma pessoa muito querida, com uma competência técnica incomparável e extremamente dedicado aos pacientes. Gostaríamos de formar mais médicos como ele, afirmou Maria Isabel Sá Earp, Diretora da FMUCP. Como humanista, Donato reservou tempo para as inúmeras academias, como a Academia Fluminense de Medicina, a Academia Brasileira de Medicina Militar, a Academia Petropolitana de Letras e a Academia Nacional de Medicina (ANM). Na ocasião de sua candidatura a Membro Titular da ANM apresentou memória intitulada Capsulite Adesiva do Ombro. Nessas instituições foi personalidade sempre bem-vinda, ouvida e admirada. Receber a Medalha Koëler no Palácio Quitandinha, em 2000, foi um momento admirável de reconhecimento desse humanismo. Pela reconhecida capacidade intelectual e de trabalho, Donato recebeu diversos prêmios ao longo da carreira, com destaque para a Medalha da Ordem do Mérito Naval (1975), o título de Médico Benemérito do Estado do Rio de Janeiro (1991) e Moções Congratulatórias pela Câmara Municipal de Petrópolis, nos anos de 1971, 75, 89 e 95. O Colégio Brasileiro de Cirurgiões concedeu-lhe o título de Membro Emérito em 1991. Com a encantadora Wanda, sua companheira em todos os momentos, viveu uma linda história de amor. Tiveram seis filhos, que lhes deram netos, bisnetos e muito afeto. Passou os últimos anos de vida recluso em casa, onde convalescia de extenso Acidente Vascular Cerebral (AVC) que o acometeu. Faleceu no acolhimento do lar, cercado por seus queridos, exatamente no dia em que completava 95 anos. Fica a lembrança dos cabelos brancos, do sorriso sempre pronto, do diálogo conciliador, do médico dedicado e do líder da ortopedia brasileira, do literato, enfim, de um verdadeiro homem de bem. Donato D’ ngelo foi, sim, um gigante em muitos aspectos. Quem o conheceu de perto sabe que a lista de elogios é imensa e que seu falecimento deixou um enorme vazio na Ortopedia brasileira.