Cadeiras | Cadeira 26

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Cadeira 26
Fundador: José Edilberto Ramalho Leite
Patrono Cândido Barata Ribeiro

O MÉDICO Barata Ribeiro, baiano de Salvador, nasceu em 11 de março de 1843 e aos 10 anos veio com sua família para a Capital do Império. Após estudos preparatórios no Mosteiro de São Bento, cursou a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro tendo sido graduado em 1867. A monografia “Das causas e tratamento da retenção da urina” coroou sua formação como interno de Clínica Médica e Cirúrgica e técnico-preparador junto ao Gabinete Anatômico da Faculdade. Em Campinas, São Paulo, para onde mudou-se após sua formatura, já mostrou sua face de profissional ligado aos cuidados sociais e administrativos. Assumiu a direção do Serviço Médico e Cirúrgico do Hospital de Caridade e um comissariado de vacinação por nomeação pela Provincia de São Paulo; fundou, ainda, uma escola para crianças pobres. PIONEIRISMO DO CIRURGIÃO Voltando à Capital do Império, tornou-se Lente Catedrático da Faculdade de Medicina, por concurso público, nomeado que foi decreto em 1883. Tomou posse da Cadeira de Moléstia de Crianças sendo médico na “Enfermaria dos Santos Anjos” – 22ª Enfermaria do Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia onde exercia sua Cátedra. A maioria dos leitos deste serviço era dedicada às afecções ortopédicas. O desafio das deformidades espondíleas produzidas pela tuberculose no esqueleto imaturo lhe inquietava. Empunhando o bisturi enfrentou os moinhos de vento das deformidades humilhantes deixadas pelo Mal de Pott. Em 1884, no empenho em levar as ações cirúrgicas como método importante do arsenal terapêutico, descomprimiu um canal vertebral e tornou-o pérvio às estruturas raquimedulares. O registro científico deste procedimento inédito (“Endireitamento forçado dos cifóticos”) abriu-lhe as portas da Academia Nacional de Medicina em 1887. O fato ocorreu uma década antes da publicação de Jean-François Calot de sua técnica de tratar cirurgicamente a tuberculose da coluna e apresentá-la na Academia de Medicina em Paris no ano 1896. Os feitos do famoso francês na Berck Plage e outras suas publicações de técnicas cirúrgicas, na língua mais usada no mundo científico da época – o francês, empanaram na História da Medicina o pioneirismo de Barata Ribeiro. No tratamento cirúrgico do pé torto congênito enfatizou um tipo mais resistente à correção usual – Pé Barata Ribeiro e criou uma técnica de liberação das estruturas mediais dos pés deformados (técnica semelhante à de Codivilla ). Utilizou-se das imagens radiográficas, segundo Bruno Maia, já em 1896 na ”detecção de corpos metálicos nos membros e na confirmação de diagnóstico clínico de caso de osteossarcoma”. Tratou a tuberculose óssea articular e as deformidades raquíticas com a utilização combinada, ou não, de aparelhos gessados. MÉDICO DE MÚLTIPLAS FACETAS E LITERATA Publicou artigos médicos variados tais quais “Medidas sanitárias que devem ser aconselhadas para impedir o desenvolvimento e a propagação da febre amarela na cidade do Rio de Janeiro” (1877), “Jurisprudência médica” (1888), “Anestesia pela injeção de cocaína no espaço subaracnóideo lombar” (1900), “Ressecção do apêndice ileocecal” e “Talha hipogástrica” (1901) Foi escritor literário de dramas (“O segredo do lar”, “O divórcio”, “A mucama”, “O soldado brasileiro”, “O anjo do lar”, “Mulheres que morrem”) e de crônicas (“Crime de Campinas). ENSINO DA ORTOPEDIA COMO ESPECIALIDADE Junto a Joaquim Pinto Portela lutou para a criação de um Serviço Hospitalar de Ortopedia que atendesse pacientes de todas as idades. Foi o iniciador, em 1883, do ensino oficial da ortopedia dentro das especialidades médico-cirúrgicas no Brasil, influenciando a sua divulgação na Capital do Império e na Província de São Paulo. POLÍTICO E ADMINISTRADOR CONTESTADO E ADMIRADO Com sua formação sanitária teve atuação importante durante em uma fase difícil do cenário nacional – o conturbado início da República. Havia sido, ao mesmo tempo ardoroso abolicionista e um republicano, facetas quase antagônicas no final do século XIX. Foi Presidente da Intendência Municipal do Distrito Federal e, em seguida, nomeado por Floriano Peixoto o primeiro Prefeito do Distrito Federal, em 17 de dezembro de 1892. No primeiro ano de sua gestão decidiu fazer uma grande “operação de limpeza” demolindo estalagens anti-higiênicas e 600 cortiços ( retratados no romance naturalista de Aluízio de Azevedo que expões as mazelas sociais da época) localizados na região portuária do Rio de Janeiro que abrigavam um quarto da população carioca. A população migrou para os morros próximos incluindo um que era rico de um arbusto chamado favela (Cnidoscolus quercifolius) que dava nome ao morro (hoje Morro da Providência). Ganhou inimigos que exploravam o negócio dos cortiços como o Conde D’Eu e outros. Entretanto recebeu de Machado de Assis, em 29 de janeiro de 1893, na “A Semana” um rico texto que o comparava, quando do desmonte dos cortiços, a Josué na derrubada das muralhas de Jericó. Dizia: “Gosto deste homem pequeno e magro chamado Barata Ribeiro, prefeito municipal, todo vontade, todo ação, que não perde o tempo a ver correr as águas do Eufrates. Como Josué, acaba de pôr abaixo as muralhas de Jerico, vulgo Cabeça de Porco. Chamou as tropas segundo as ordens de Javé durante os seis dias da escritura, deu volta à cidade e depois mandou tocar as trombetas. Tudo ruiu, e, para mais justeza bíblica, até carneiros saíram de dentro da Cabeça de Porco tal qual da outra Jericó saíram bois e jumentos. A diferença é que estes foram passados a fio de espada. Os carneiros, não só conservaram a vida mas receberam ontem algumas ações de sociedades anônimas.” Teve sua indicação para o Supremo Tribunal Federal embargado pelo Senado da República tanto em vingança a quem o indicou (Floriano Peixoto), como devido a problemas políticos relacionados às suas medidas disciplinadoras dos costumes e hábitos do comércio e ainda, pelo que foi alegado, falta de notável saber jurídico. Depois foi membro deste mesmo Senado. Morreu pouco depois dos nove anos em que foi Senador da República, em 10 de fevereiro de 1910, na cidade do Rio de Janeiro, aos 66 anos de idade e foi sepultado no cemitério São João Batista, em Botafogo.