(1899-1987) Francisco Elias de Godoy Moreira (1899-1987) viveu muito à frente de seu tempo. Sua obra e seu legado científico e cultural foram amplos e iniciaram-se em 1923, quando obteve o grau de doutor com a tese “Contribuição ao Estudo das Perfurações Intestinais no Decurso da Febre Tifoide”, considerado um tema de grande relevância para a época. Uma vez concluído seus estudos, seguiu viagem para a Europa em direção aos mais avançados e conceituados centros de ensino de Ortopedia. Entre 1923 e 24, esteve na Alemanha onde fez estágio para, a seguir, trabalhar como assistente do eminente Prof. Konrad Biesalski. Entre 1925 e 26, em Bolonha – Itália, foi assistente interno do Prof. Vittorio Putti, que dirigia naquela época o fulcro máximo do saber ortopédico, representado pelo Instituto Rizolli da Faculdade de Bolonha. A seguir fez passagens na França, Áustria e Inglaterra. De volta a São Paulo, em 1927, fundou o chamado Instituto Ortopédico e Clínica de Fraturas, um hospital privado modelo, dedicado exclusivamente à Ortopedia. Também foi trabalhar na Santa Casa de São Paulo, como assistente da 29ª Cadeira da Clínica Ortopédica e Cirurgia Infantil da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Serviço do Prof. Luiz Manoel Rezende Puech. Foi no ano de 1937, que Godoy Moreira, inspirado pelo parafuso proposto pelo americano Smith-Petersen, e após visita a este conceituado ortopedista em Boston-EUA, idealizou um sistema de fixação da fratura do colo do fêmur do idoso, constituído por um parafuso helicoidal, que passou a ser conhecido como “parafuso de Godoy Moreira”. Em 1938 obteve o título de livre-docente da 29ª Cadeira, após submeter-se a Concurso de Título e Provas. Para isto, muito contribuiu sua maior obra científica, relacionada ao estudo, pesquisa e tratamento cirúrgico das graves sequelas da paralisia infantil, que culmina, em 1939, com a publicação da monografia “Princípios Fundamentais do Tratamento da Paralisia infantil”. Com o falecimento em 1939 do Prof. Rezende Puech, Godoy Moreira tornou-se o novo Catedrático da Disciplina de Ortopedia e Cirurgia Infantil. Nesta ocasião, a 29ª Cadeira funcionava no Pavilhão Fernandinho Simonsen da Santa Casa de São Paulo, e era chefiada pelo Prof. Domingos Define. Assim, assume a chefia da 29ª Cadeira da FMUSP. A Faculdade de Medicina era apenas hóspede da Santa Casa, que cedia suas enfermarias e instalações à Faculdade. A direção da Faculdade de Medicina ofereceu ao Prof. Godoy Moreira, a 5ª Enfermaria de Cirurgia de Homens da Santa Casa, ala que contava com 15 leitos e onde foi instalado o Curso de Graduação da FMUSP. O Instituto Central do Hospital das Clínicas foi inaugurado oficialmente em 19 de abril de 1944, tendo sido o Prof. Godoy Moreira nomeado como seu primeiro Diretor Clínico. De imediato, transferiu seu Serviço de Urgência da Santa Casa para o Pronto Socorro do Hospital das Clínicas, contando com 120 leitos. Neste mesmo ano realiza, com grande repercussão jornalística, a primeira intervenção cirúrgica eletiva do Hospital. Foi também em 1944 que a Congregação da FMUSP aceitou o pedido de Godoy Moreira, para que a 29ª Cadeira passasse a se denominar Cadeira de Ortopedia e Traumatologia e o Serviço, de Clínica Ortopédica e Traumatológica (COT). Em janeiro de 1946, criou e foi o primeiro Editor Chefe da Revista do Hospital das Clínicas, redigindo e assinando o Editorial de apresentação e o seu trabalho científico de abertura, intitulado “Tratamento da Pseudoartrose do Colo do Fêmur pela Osteossíntese”. A grande obra e o maior legado de Godoy Moreira foi o de haver planejado, viabilizado e inaugurado o atual Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HC-FMUSP, em 31 de julho de 1953, contando com 300 leitos e equiparando-se aos principais centros mundiais de Ortopedia. Conhecida originalmente como COT (Clínica de Ortopedia e Traumatologia) foi viabilizada em função do surto de poliomielite que assolou o país na década de 40, fazendo como vítima, Getúlio Vargas Filho – filho do Presidente da República. Após submeter-se a complexas cirurgias realizadas por Godoy Moreira, Getúlio Vargas Filho veio a falecer em 1943 e, após perder seu filho, Getúlio Vargas promulga, em outubro de 1944, a pedido de Godoy Moreira, o decreto para a criação e posterior construção do futuro IOT. Nos primeiros anos do IOT, várias foram as importações, via marítima, dos chamados pulmões de aço, em que permaneciam envoltos os pacientes vítimas de grave insuficiência respiratória. A partir de 1954, Godoy Moreira criou grupos especializados dentro da própria Ortopedia, proporcionando a formação de brilhantes livre-docentes, culminando com a criação, em 1970, do Curso de Pós-Graduação do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da FMUSP. A constante preocupação com a reabilitação dos pacientes, incrementada pelas vítimas da II Grande Guerra Mundial, levou o Prof. Godoy Moreira a criar, em 1959, o Instituto Nacional de Reabilitação (INAR), anexo ao IOT e pioneiro no gênero na América Latina. Em 1966, Godoy Moreira aposenta- de todas as suas funções ligadas ao IOT e à FMUSP, passando a se dedicar à sua prestigiada e movimentada Clínica de Ortopedia e Fraturas Godoy Moreira. Faleceu aos 87 anos, em janeiro de 1987. Por justa homenagem, o Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IOT-HCFMUSP) passou a chamar-se, por decreto-lei estadual a partir de agosto de 1990, Instituto de Ortopedia e Traumatologia “Professor F. E. Godoy Moreira”. Prof. Godoy Moreira deixou, também, seu legado cultural. No andar térreo do prédio encontramos um portal de vidro jateado, vindo da Itália a pedido de Godoy Moreira e onde se destacam, duas figuras que reproduzem a árvore da Ortopedia. No Espaço Cultural, destaca-se a reprodução de uma Estela votiva egípcia da XIX Dinastia, denominada “O Porteiro Roma”. No hall há uma bengala de apoio de marcha, que foi utilizada pelo ex-presidente americano, Franklin Delano Roosevelt, vítima da poliomielite em sua forma adulta. A peça histórica foi doada, após a morte do ex-presidente, por sua viúva. Ao fundo do andar térreo encontra-se um busto de Godoy Moreira, inaugurado pelo seu já falecido filho ortopedista, Roberto de Godoy Moreira, com a inscrição: “Ao idealizador deste hospital, fruto de sua atividade perseverante e incansável”. (Fonte: Dr. Eduardo de Souza Meirelles – Médico Assistente Doutor – Grupos de Reumatologia e Osteologia IOT – HCFMUSP)