Cadeiras | Cadeira 40

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Cadeira 40
Fundador: Osvandré Lech
Patrono Arnaldo Amado Ferreira Filho

1930 – 2020 Filho do prof. Arnaldo Amado Ferreira, aclamado professor de Medicina Legal da USP, o jovem Arnaldo Amado Ferreira Filho cresceu respirando intelectualidade. A sua cultura geral é vasta e aplaudida por todos os que já tiveram a oportunidade de conversar com ele. Formou-se em medicina na USP em 1955 e nunca saiu de lá. Foi ortopedista geral e responsável pelo ambulatório de hemofilia, onde reuniu material para a sua tese de mestrado em 1978. O interesse pela cirurgia do ombro ocorreu a partir dos anos 70, quando passou a tratar casos de luxação recidivante com o bloqueio ósseo pela então denominada técnica de Bristow-Latarjet, sendo o tema da tese de doutorado em 1984. O professor Arnaldo foi o responsável pelo primeiro ambulatório especializado do país, em 1983. O ambulatório gerou o Serviço, que foi responsável pela formação de dezenas de especialistas, dentre eles: Eduardo Carrera, Ruy Rocha, Jaime Guiotti, Lúcio Righi, José Bernardes, Marco Antônio Veado, Rômulo Brasil Fo, e seu filho Arnaldo Amado Ferreira Neto, que mais tarde chefiou o mesmo Serviço. Todos estes profissionais seguiram bem-sucedidas carreiras médicas e contribuíram com a formação de novas gerações. O ensino da cirurgia do ombro no Brasil iniciou com a instalação do primeiro ambulatório especializado no HCUSP, sob a coordenação do Prof. Arnaldo, em 1983, local onde formou dezenas de especialistas, muitos deles seguiram formando novas gerações. Nos anos 80 e 90, a patologia do ombro acaba por envolver completamente a sua atividade profissional e ele percorre o Brasil e países vizinhos divulgando a especialidade, numa época em que pouco se conhecia sobre o assunto e o armamentário cirúrgico era ainda rudimentar. O seu primeiro material artroscópico não possuía monitor e o limitado campo visual era obtido “pela ótica” …!!! A fundação do Comitê de Ombro e Cotovelo da SBOT (COC-SBOT, hoje SBCOC) em Brasília durante o CBOT de 1988 teve a participação ativa do Professor Arnaldo, junto com outros 23 ortopedistas. Ao ser indicado como primeiro presidente da novel instituição, abriu mão da distinção e indicou seu amigo carioca Donato D` ngelo. Por isso, a geração seguinte passou a chamá-los de “Pais da Cirurgia do Ombro no Brasil” . As contribuições do Prof. Arnaldo no cenário internacional da cirurgia do ombro foram inúmeras e abriram caminho para futuras conquistas. Em 1992, ele é convidado por Charles Neer para ser Editor do recém-lançado Journal of Shoulder and Elbow Surgery, uma deferência ímpar. Na oportunidade, Arnaldo indicou como editores associados: Sérgio Checchia, Sérgio Nicoletti, Paulo Sérgio dos Santos, Donato D` ngelo, Américo Zoppi Filho, e Osvandré Lech. Em carta escrita a mão, Neer agradece a Arnaldo : “The Founding Trustees are delighted the South Americans have appointed such an outstanding staff and adopt our Journal as their official Journal…”. A Sociedade Sul-Americana de Ombro e Cotovelo (hoje Latino-Americana, SLAHOC) foi fundada durante o CBOT de 1994 em Salvador com Charles Neer como “Inaugural Lecturer”. Na ocasião, o Prof. Arnaldo foi indicado o primeiro presidente. Ele também foi Membro correspondente internacional da American Shoulder and Elbow Surgeons (ASES) desde 1994. O professor Arnaldo encerrou as atividades na USP em 1998 e manteve-se ativo em consultório por vários anos. Participou de diversos congressos mundiais de ombro e cotovelo (inicialmente ICSS, depois ICSES) e foi homenageado como “Pioneer” em 2001 na Cidade do Cabo, África do Sul, local onde o Brasil recebe a indicação para sediar o ICSS em 2007. Conhecido por todos pela vasta cultura geral, ele discorria sobre arte, música, literatura, história, etc., com notório volume de informações. No início dos anos 90, o notável Hiroaki Fukuda, durante a única visita ao Brasil para palestrar no ORTRA no Rio de Janeiro, e depois de conversar longamente com o Prof. Arnaldo, pergunta-lhe: “where did you learn so much about shoulder surgery ? “ . A resposta veio com simplicidade: “during my residency training and studying by myself”. Fukuda estava diante de um autodidata em cirurgia do ombro, algo raro na época e inexistente hoje em dia… Fukuda se impressionou com o fato e repetiu a história muitas outras vezes. Autodidatismo aliado ao rígido processo de aprender com a própria experiência, acompanhar atentamente a bibliografia e manter a mente aberta para inovações é a melhor maneira de definir a impressionante trajetória científica do Prof. Arnaldo. É dele a citação: “O espírito científico não vem das instituições, mas das pessoas que pensam com liberdade”. “Você já leu Sapiens – a breve história de quase tudo ? “ “Ainda não, professor.” “Não me chama de professor. Você já sabe, somos colegas… e você precisa ler este livro ! “. A insólita conversa deu início a um bem-humorado almoço entre os Arnaldos – pai e filho – e Osvandré Lech, que estava colhendo dados biográficos para uma homenagem que prestaria a ele em 2018 pelos 35 anos de existência do Serviço. A conversa foi apaixonante e não caberia num capítulo… a homenagem finalizou com algumas palavras-chave: LEGADO / homem de família / marido apaixonado / pai presente / amigo dos amigos / cidadão exemplar / cientista respeitado / pioneiro da hemofilia ortopédica / pioneiro da cirurgia do ombro / praticou o Latarjet “antes da moda” e a transição entre cirurgia aberta e artroscopia / livre pensador / filólogo / bibliófilo / opinou sem impor / permitiu novas lideranças / impediu vaidades pessoais / atuou com representatividade / praticou a Academia / criticou a Academia. O professor Arnaldo foi casado com a D. Vera e tiveram os filhos Fernando, piloto comercial, e Arnaldo Neto, ortopedista. Casado com Christina, Arnaldo Neto deu ao pai os netos Sylvia, Vitória e Gustavo e, depois, a bisneta Ava. Arnaldo Amado Ferreira Filho, um dos pais da cirurgia do ombro do Brasil, faleceu de causas naturais em sua residência em São Paulo em 10 de novembro de 2020, aos 90 anos de idade.